domingo, 31 de julho de 2011

Tempesto

Esconde-esconde. Quanto mais se vai, mais se perde. Por entre as paredes, a névoa adentra. O mais claro é o mais escuro; o mais límpido, o mais opaco. As palavras soam estranhas, eu não consigo me ouvir. A madrugada me apetece. Mergulhando no que me confunde, tudo que sei é respirar água. Pro fundo caminho. Todas aquelas estrelas que costumavam me visitar à noite, não mais avisto. Não sei pra onde foram; perdi-me. E o que dizer diante desta janela absurda? Palavras são lançadas ao vento todos os dias, descartáveis como a contemporaneidade, tão estranhas quanto eu mesmo. Eu me desfaleço. As barbatanas, cansadas, repousam. Não que eu tenha desistido de caminhar, ou debulhar meu canto por aí, a única coisa de que preciso no exato instante é organizar as muralhas, separar os gravetos, catar as folhas de outono e redecorar o quarto. Revelo quem sou, despisto o tempo, hipnotizo meus problemas, e ainda assim sou um turbilhão de coisas e não sei por onde começar. Extremamente catártico, ligeiramente absurdo, masturbação de sonhos e um leve tom de melancolia. Coisas de noites de insônias, cachoeiras, pensamentos agitados e meandros. Meus azuis às vezes soam confusos, mas eu bem sei condensar meu asfalto. Liso, leve, solto. Não tão lindo assim. Coração azul. Janela aberta. Eu sei que tenho muito pra falar. Mas tudo que me cabe agora é o repouso... um vestígio de alma... um feixe de luz.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Mangue


Brotou sem que eu soubesse. Antes era só orvalho e a neblina coloria minhas paisagens amendoadas. Faz pouco tempo que deixei as palavras condensarem meus espelhos novamente, e tudo que vem são os amores que despertam. Pra não falar dos versos antigos, renovo o brilho. As estampas estavam desbotadas e eu não tinha muito o que dizer: foram cinco meses em silêncio, sem me ouvir, sem falar. Apenas dancei o que o Vento cantava, enamorado de sua solidão estranha, enquanto eu me perdia nos repentes que a mim se achegavam. Não tive problemas com os marasmos, nem com  o sereno sobre o asfalto. Só senti falta da gota de orvalho a encharcar-me as folhas. Andei por aí seco, ressequido, esquecido... Deixei de me lembrar do amor, fixei-me longe da beira-mar, e minhas raízes adormeceram em algum lugar léguas de mim, porque o que eu não queria naquele momento era falar. Tudo em mim era silêncio... até você chegar.