terça-feira, 27 de novembro de 2012

Beira Mar


Quando minha mão tocou a sua, o oceano parou. Porque minha pele era só arrepios, e o sol que já se havia ido insistiu em renascer em mim. Tudo borbulhava de um jeito, que desnudar com os olhos já não era suficiente. Versos, suspiros, olhares... A poesia costurando tudo... O vento me atiçando, seus olhos me olhando, dizendo que também queriam, enquanto a beira-mar orquestrava a ardência em nós.

Meus lábios querendo se unir aos seus. Um azul que insistia em ir. Um céu que sugeria amores. Um soprar que propunha mistérios. Palavras-toques que as areias ocultariam das estrelas. Pra umedecer aquilo que o mar não completou. Pra desaguar aquilo que o mar nos confiou. Pra selar com o céu o que as ondas não precisariam saber. Como se um beijo suspendesse a sutileza da minha respiração, e fizesse teu cheiro um perfume meu.

Conheci cada traço do seu corpo. Toda vez que me deitei em seu leito, te redescobri no frescor da primeira vez. As nuances da temperatura, o desenho das suas costelas e suas têmporas se acostando em meu peito. Encontrar sua cintura e encaixar minhas pernas nas suas. Me ajustar a você. Tocar as estrelas sem abrir os olhos e te amar mais uma vez. Ouvir sua voz sentindo o pulsar do sangue. Respirar o ar tatuado pelo seu cheiro. Me abandonar pra nos permitir. Como se o céu nos conduzisse, o mar nos envolvesse...

O infinito? Um detalhe. O que me importava, amor meu, eram suas canções. Seus anseios e sussurros. Pausas e silêncios. Porque sem você eu não sei mais. Sem você, não mais me existe o mar...

domingo, 25 de novembro de 2012

Alado

Uma noite de amor, uma canção e o mar... o suficiente pra que minha alma se alimente pra desenhar-te um céu. Lugar secreto pra repousar e fechar os olhos. Se ouvir e não querer mais nada. Harmonizar as cores e respirar a calma das nuvens. Fazer com que a poesia emerja e me cante versos, ninando-me os anseios e me trazendo o mar. Onde vem os sonhos azuis mais sutis que me acalmam e me embalam a vida:

De tudo que habita
e ali vive,
o mais sutil
e precioso
faz-se anil:
um breve respirar
uma fermata
suspiros a dois
e uma taça de vinho
pra firmar o céu,
juntarem-se as asas
e enfim voar...



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Espera


Em cada porto, a mesma busca. Minhas esperanças regadas pelo azul do oceano se achegam e se lançam diante de minhas angústias. Como se eu te ouvisse de longe e respondesse baixinho.Como se eu soubesse que no momento mais espontâneo em que eu fechasse os olhos, você apareceria pra desconstruir todos os meus muros, dispersar todas as minhas fronteiras pra eu enfim me entregar. 

Às vezes me pergunto se tudo isso é apenas projeção da minha ingenuidade, mas algo recôndito em mim me faz insistir em não deixar de acreditar. Eu queria tanto que você aparecesse logo, pra que eu parasse de buscar nos outros o que sei que encontrei apenas em você em outras vidas, outras andanças, como um amor de andarilhos de mãos dadas.

Minha espera tem sido longa, ininterrupta, e o que guardo em mim segue intacto. Ainda que eu mude as práticas, os ideais, as maneiras de agir, ainda que eu envelheça e os sonhos se transformem, continua igual. Porque desde que conheci o mar, sei que é nele, mergulhando ao seu lado, que a paz virá... Então espero seu olhar que me vai desnudar inteiro, o toque que vai fazer parar o tempo, o filete de luz que vai iluminar cada amanhecer dos meus dias...

Quando esse dia chegar, minhas couraças cairão por terra, pois é com toda essa canção sincera que meus tijolos se transformarão em asas. Meu coração diz que o que guardo no peito está esperando o momento certo de voar. Ouvir das estrelas e sutilmente amar. Portanto, amor meu, sigo aqui te esperando, enquanto a roda da vida insiste em girar. Por isso te espero, te quero, te sonho... e em silêncio... te amo...