quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Ninho

Deixa o coração respirar. Deixa o detalhe vir. Que o olhar abra as portas. Deixa que a palavra aflore e a canção venha perfumando. É que a veia acompanha o tempo, e neste corpo embriagado circula amor.

Regado a desejo, eu sou. Pra inundar o que estiver seco, exalar o que brota dentro. Feito uma flor de lótus. Em mil pétalas desabrocha e desanda a costurar suspiros, trazendo o vento e iluminando meus vazios...

E assim as coisas se ajeitam, caminhando em direção a você, destino para onde meus pensamentos vão. Me faz sair de onde estou na velocidade de um fechar de olhos... Vou com o vento, buscando suas memórias, desejando estar mais perto, tecendo hologramas do seu abraço.

É que eu te quero, amor. Sem a bênção dos seus abraços, meu peito aberto perde o sentido. Não tem por que valsar o verso. Não há razão pra dançar você... É que eu insisto, me entrego e me dou. Então vem logo e me abraça. Chega logo e se ajeita. Nosso ninho a gente faz em qualquer lugar... Porque o "abismo" entre nós é somente amor...


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Enlace

"Por amor, por Deus
prenda-se a mim" (Luis Kiari)


Conheci cada traço do seu corpo. Ainda assim, toda vez que me deito em seu leito te redescubro no frescor da primeira vez. A nuance da temperatura, o desenho das suas costelas e suas têmporas se acostando em mim. Encontro sua cintura e encaixo minhas pernas às suas. Me ajusto a você. Toco as estrelas sem abrir os olhos, e te amo mais uma vez. Ouço sua voz, sentindo o pulsar do sangue. Respiro o ar contaminado pelo seu cheiro. Me abandono pra te ver avançar. Como se o céu nos conduzisse, o mar nos inspirasse e evocasse suas canções. Seus anseios e sussurros. Pausas e silêncios:

onde as melodias nascem
em cuja relva me deito
e me permito

onde as estrelas recostam
as lágrimas perfumam
e te recebo

onde viver é repousar
no brilho do calor
e te abraço

onde a vida eterniza o beijo
amar é imensidão
e t'enlaço.

Cura


Ela cai pra limpar. Clamei que viesse pra me lavar a alma. Que me tirasse todas as tatuagens que me pintaram. Que me apagasse as cicatrizes que me desenharam. Que me privasse do suor que me causou desconforto. Que me esvaísse o calor do corpo e dos pensamentos que me habitam durante o dia e se transformam em pesadelos à noite.

Pode ser que eu tenha gostado. Mas quando se ingere algo em excesso, torna-se veneno. Corre pelo sangue e nos afeta as células. Os hormônios borbulham diferente; a aura muda de cor. O céu se transforma, se encharcando de um nublado diferente, em que a dor se esconde, camuflando em meio aos afetos, enquanto o corpo se transforma e tudo que fica é uma possessão de um estado além que jamais conseguirei explicar.

Por isso o céu é minha solução. Essa água que me unge e espanta todos os agouros, tirando-me as sombras. Como se fechar os olhos e respirar fundo enquanto paro o tempo fosse a cura pros meus anseios, e daí começasse uma melodia calma que me afagasse o coração. Um mantra. A necessidade oculta gritando a própria sede. Meu coração áspero feito a terra seca e meus harmônicos desejando voltar. Minha intuição me dizendo sobre a hora de romper com o vício... Quebrar todos os espelhos que me ocultaram as janelas da parede. Pra que um dia eu os estilhaçasse e fizesse do horizonte um tesouro sagrado.

Somente ali vou me purificar de todas as insônias e alucinações. Do que câncer que você se tornou. Pra minha cura acontecer e eu conseguir ir, sem que sua presença me habite os devaneios, já que não faz sentido eu me alimentar um passado que já se foi.

Talvez essa chuva me seja Graça. E cada gota me quebra um retrato seu. Um desejo meu. Pra que as palavras se destinem pra um outro alguém e sejam frutos de um novo pulsar. Pulsar de veia. Razão pela qual sinto sede e almejo voar. E (te) amar...

segunda-feira, 4 de março de 2013

Ouro


Não sei onde vai dar. Mas sigo. Algo me diz que devo continuar trilhando, ainda que o futuro permaneça no escuro...

A luz vem de lá. E o desconhecido que habita em mim me persuade a não desistir. Por isso me brota o desejo do adiante. A inspiração que me move as pernas e me foca o olhar. Direcionando-me ao horizonte de onde brota a luz, e pra onde meu coração me sugere direcionar o amor.

Eu te dou o ouro do meu amor. E tudo que há de bom que foi semeado outrora. Nesta vastidão da vida, nessa confusão do agora, só me resta amar. O mar. A certeza de que um dia chegarei ao fundo e encontrarei o tesouro que me é herança.

Fecho os olhos pra enxergar. A canção que habita em mim e que me sugere o vento. De onde o sol nasce e me traz a luz imanente. A energia das manhãs e das noites, que me banham a alma.

Preciso abrir os poros pra me libertar. Permitir que o renovo me venha e irradie sua luz sobre mim. Pra alma voar e, alada, semear no céu. Porque tudo é amor. E desta verdade sou fruto. Filho. Tudo é amor. Eu sou amor... 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Lótus


Não sei onde nem quando. Só sei que sim e que é. Como borboleta que me agita o estômago e me traz asas de terras que nem sei. Conduz-me a instâncias de que a razão duvida, já que o céu é um infinito inundado por mistérios. Lugar de onde incertezas que meu corpo insiste em visitar, como se voar fosse fechar os olhos e se permitir fugir para pensamentos ocultados até mesmo dos abismos do universo.

Vou pra lá todos os dias e me permito. No vazio entre a luz e as trevas. Como flor de lótus. Um beijo furta-cor. Onde minha mente se expande em lugares mais recônditos de mim e me descubro em camadas. Algo a ser saboreado por cada curva da minha alma, lugar em que entôo mantras infindáveis e evoco minhas loucuras. Pra onde me escorro e deixo a poesia vir me visitar, feito uma alma velha que me toca o ombro direito e me causa calafrios, pra eu enfim me libertar.

A alma dança liberta. Dança o vento dos meus devaneios pra que o perfume venha. A lótus desabrocha e as pétalas se tornam mar. No topo da minha cabeça, me atiçando o espírito, enquanto eu, envolto dessa luz branca, torno-me alado e te penso inteiro. Te hologramo sem medo e o fogo se expande. E sem caber em mim mesmo, perambulo sem lugar diante do cais... Com as asas imersas, até explodir em poder pra enfim voar. Não há mais limites neste lugar... É tudo sublime demais...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Holograma


Sempre te guardei no bolso. Enfrentei sóis e luas e te mantive ali, meu mais lindo segredo. Minha lembrança mais singela. A única cujos detalhes guardei todos, e fiz deles um autorretrato, ressaltando meus sonhos e projeções ao teu lado.

Sabes, amor? Depois de todos esses anos sem te saber notícias, sem te ouvir a voz, lembrei-me de todos os teus aniversários, te sonhei em algumas manhãs e saboreei tuas memórias em luas de prata. Saboreei os beijos que almejamos, mas não trocamos; as noites que nos prometemos e não tivemos; as juras de amor trocadas em segredo, e até então não cumpridas. Sempre com a certeza de que te encontraria de novo, com a esperança de te sentir o cheiro e te mostrar o mar. Sentar ao teu lado na areia e ver todos os por de sóis diante de nós. Te amar mais uma vez em um pra sempre nosso.

Pedi ao universo que nos tornássemos eternos e as estrelas nos dessem sua bênção. Sussurei-te em telepatia: “Me faz ser-te um mar que te faço um céu. Deita na areia e deixa que o embalo das águas te acalente as tristezas. Dorme enquanto te guardo, pois a luz virá abrir-te os olhos.Escuta o acalanto do vento que te dirá sobre meu amuleto...”

Ouviste, vida? Porque de todos os anjos que te visitaram a beira-mar, de todas as ondas que te umedeceram a face, lá estava eu te sereiando em pensamentos. Te sereiágua sempre. Enquanto tiver vida pra te sonhar. Sonhar teu abraço e todos os beijos que nos roubaram esses oitos anos, e fizeram de ti meu mais lindo holograma. O sonho que guardei em segredo e cultivei nas águas, em profundezas que somente teu coração visitou. Águas cujas ondas me remeteram a ti, me tiraram o sono e me ensinaram amar, selando em versos o beijo que guardei pra te entregar...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Flor

Vem cá, meu dengo. Deita aqui que o colo é teu. Deixa que a chuva te lave a alma e cuide do teu jardim. Sei bem do vendaval que te afetou as flores. É que as intempéries fazem parte. Porque a vida instintivamente nos dá nuances, pra que as árvores que brotarem no coração cresçam fortes, a ponto de vergarem, mas jamais caírem. Porque elas nasceram pra atravessar o céu e tocarem as estrelas... Pra que juntos possamos subir em seus troncos e colher sementes de lua.

Vem sem medo, minha flor, que te dou a mão enquanto caminharmos no escuro. Te levarei à beira-mar se o medo te invadir. Sabes que sou teu anjo e me és asa, então vem voar que o céu tem muito a nos dizer. É no seu horizonte mais belo onde encontraremos o antídoto pra todos os encantos que nos lançaram e nos tiraram a calma. É exatamente lá onde os nossos segredos se tornarão azuis, e os nós se tornarão jorros de luz, porque o tempo das amarras já se foi.

Não te esqueças do por que nascemos. Da razão pela qual devemos seguir o curso. Não te doas pelos espinhos de outrem que não te ajudou a adubar a terra. Não te permitas machucar-te por quem se negou conhecer teu perfume quando quiseste anunciar tua madre pérola. Deixa que tuas pétalas floresçam em um dia de sol regado por uma chuva leve no fim da tarde, quando os pássaros visitarem o céu e a noite te cobrir com uma canção de ninar, pra que te aquietes a alma.

Não mostres o melhor de ti para quem te ofereces terra seca e estéril. Faz da tua vida um diamante secreto, e deixa ele brilhar quando alguém te oferecer versos pela janela. Algo que rime com o teu melhor, com tua alma colibri. Com teu jeito de menina que faz brotar o sorriso alheio. Com tua alegria que me faz te querer por perto. Porque me perfumas o dia, e minh’alma flutua ao teu lado. Perto de ti as tristezas se vão, e me sinto perto do mar. Então me dá teu abraço, porque colado em ti eu nunca estarei na pior. Não deixarei que te aproximes de abismos. Nunca estaremos sós.