quarta-feira, 17 de julho de 2013

Cura


Ela cai pra limpar. Clamei que viesse pra me lavar a alma. Que me tirasse todas as tatuagens que me pintaram. Que me apagasse as cicatrizes que me desenharam. Que me privasse do suor que me causou desconforto. Que me esvaísse o calor do corpo e dos pensamentos que me habitam durante o dia e se transformam em pesadelos à noite.

Pode ser que eu tenha gostado. Mas quando se ingere algo em excesso, torna-se veneno. Corre pelo sangue e nos afeta as células. Os hormônios borbulham diferente; a aura muda de cor. O céu se transforma, se encharcando de um nublado diferente, em que a dor se esconde, camuflando em meio aos afetos, enquanto o corpo se transforma e tudo que fica é uma possessão de um estado além que jamais conseguirei explicar.

Por isso o céu é minha solução. Essa água que me unge e espanta todos os agouros, tirando-me as sombras. Como se fechar os olhos e respirar fundo enquanto paro o tempo fosse a cura pros meus anseios, e daí começasse uma melodia calma que me afagasse o coração. Um mantra. A necessidade oculta gritando a própria sede. Meu coração áspero feito a terra seca e meus harmônicos desejando voltar. Minha intuição me dizendo sobre a hora de romper com o vício... Quebrar todos os espelhos que me ocultaram as janelas da parede. Pra que um dia eu os estilhaçasse e fizesse do horizonte um tesouro sagrado.

Somente ali vou me purificar de todas as insônias e alucinações. Do que câncer que você se tornou. Pra minha cura acontecer e eu conseguir ir, sem que sua presença me habite os devaneios, já que não faz sentido eu me alimentar um passado que já se foi.

Talvez essa chuva me seja Graça. E cada gota me quebra um retrato seu. Um desejo meu. Pra que as palavras se destinem pra um outro alguém e sejam frutos de um novo pulsar. Pulsar de veia. Razão pela qual sinto sede e almejo voar. E (te) amar...

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